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IV.___________________
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"...com regras inflexiveis, uma das quais a de fingir que as pessoas estão muito animadas e divertidas."
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Batista Bastos
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III. _____________________________________________________
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Sou eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobressalente próprio, Arredores irregulares da minha emoção sincera. E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente, De me ter deixado, a mim, num banco de carro electrico, Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua, Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda, De haver melhor em mim do que eu.Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores, De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas, De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.
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É a impressão um tanto ou quanto metafísica, Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar, De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo — A impressão de pão com manteiga e brinquedos De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina, De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela, Num ver chover com som lá fora E não as lágrimas mortas de custar a engolir.Sou eu mesmo, o trocado, O emissário sem carta nem credenciais, O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro, A quem tinem as campainhas da cabeça Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
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Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província...
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Alvaro de campos

II.____________________________
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(...) Da compra, da venda, da troca de pernas, Dos braços, das bocas, do lixo, dos bichos, das fichas, das loucas, Da cama, da cana, fulana, bacana, de cabo a tenente, de toda patente, das Índias, gelada, Dos vinte minutos, da brasa dos brutos, Que apaga charutos, dos dentes rangendo, dos olhos enxutos, Das marcas das macas, das vacas, das pratas, Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos,da carta , marcada, do jogo de azar (...)
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I._______________________________________________________
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Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; Ai de ti, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste gargalhadas ébrias e vãs no seio da noite. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador e tu não vês o sinal; estás perdida e cega no meio de tua malícia.Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas.Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando-o.E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros.Os povos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decoração; desde Menescal até Alaska.Então quem expeculará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor.Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação.Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem lambretas instrumentos de concupiscência.Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão garrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas do alto do Babilônia. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados? Os gentios de teus morros descerão uivando, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas.Pois grande foi tua vontade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e tu não vês o sinal.A rapina de teus mercadores, a libação de teus perdidos, a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis – tudo passará; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares.Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas, pois em verdade é tarde para a prece.Que estremeça o teu corpo fino cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás, e canta a tua última canção, Copacabana!
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Rubem Braga.1958
"Ai de ti, Copacabana!"

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