I.
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LampadaDeFenda

Estava emparedada dentro de um sonho, os muros não tinham consistência nem peso: o seu vazio era o seu peso. Os muros eram horas e as horas fixo e acumulado pesar. O tempo dessas horas não era tempo. Saltei por uma fenda deste mundo. O quarto era o meu quarto e em cada coisa estava o meu fantasma. Eu não estava. Olhei pela janela: Sob a luz nem viva alma. Reflexos na vela, casas e carros adormecidos, a insônia de uma lâmpada, o carvalho que fala solitário, o vento e suas navalhas, a escritura das constelações, ilegíveis. Em si mesmas as coisas se abismavam e os meus olhos de carne viam oprimidas de estar, realidades despojadas dos seus nomes. Na rua vazia a presença passava sem passar, desvanecida nas formas, fixa nas suas mudanças, e em volta casas, carvalhos, tempo. Vida e morte fluíam confundidas. Olhar desabitado, a presença com os olhos de nada me fitava: Véu de reflexos sobre precipícios. Olhei para dentro: o quarto era o meu quarto e eu não estava. A ele nada falta - sempre fiel a si, jamais o mesmo - ainda que nós já não estejamos... fora contudo indecisas, claridades: a alba entre confusos telhados. E as constelações que se apagaram.

II.___________________________________________________________________________ Photobucket
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A luz faz do muro indiferente um espectral teatro de reflexos. No centro de um olho me descubro; não me vê, não me vejo. Dissipa-se o instante. Sem mover-me, permaneço e parto ______sou uma pausa
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OctávioPaz
III._______________________________________________________________________________________

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LUZ

«...turning the last lamp light down.»